Penas do Pio

Poesia Missioneira

suporte do blog - Ricardo Kraemer Medeiros (Pio)

sábado, 20 de fevereiro de 2010

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

ME NINA



Parida coxilha aberta

Saudada por passarinhos

Rosas perderam espinhos

Tocados com bela flor

Índios tocando sinos

A brisa anuncia vida

Predestinada na lida

Encantar cantando amor.





Pelo duro pela alma

Agarrou logo ensino

Avós e pais vinho fino

Forjaram seus argumentos

Faltando algo ao tempo

Herança de um povo há

Além de gaúcha guapa

Ser bicho do Paraná.



União formou Vitórias

Acertaram o teu prumo

Guarani sabe seu rumo

Maravilhar velhos pagos

Verte douro de afagos

Semente pura da boa

Cacimba de água pura

Sorvemos de trago em trago.



Hoje ilumina meus campos

Brota ao redor de lagoas

Ventos lhe abençoam

És o Rio Grande de fato

Semeando doces favos

Cavalga o céu de meu pampa

Perfumando nossas mentes

Os versos de Nina França.

Resgatar a arte poética , os versos e causos de Cindinho Medeiros, tem sido uma descoberta diária da leitura que um idealista e observador possuia sobre seu tempo seus costumes e principalmente sobre sua gente.


( Leila Silveira -comentário sugerido pelo poeta Pio Medeiros)




Fabiano


Na estância do Campo Brabo

foi que conheci Fabiano

em maio não lembro o ano

sei que andava de tropeada

de bombachas remangada

sem um pelego no lombo

o moleque abria rombo

nos campos cheio de geada



Fabiano, levanta alcaide

oigalete piá marranheiro

busca a eguada no potreiro

correndo e traga de apé

ta hoje que nem muié

quando empeça de retovo

eu digo as peoas de novo

pra não te darem café



Ligeiro que nem pra briga

o guri saiu andando

le bombiei vinha chorando

meio espantado de sono

eu pensei, não tem patrono

é suco de pura uva

igual tareco de viúva

todo mundo quer ser dono



Compartilhei da tristeza

disse ao dono da fazenda

amigo me de ou venda

este chimbo que sustento

estropiei meus sentimentos

negociando a humanidade

mas eu não fiz por maldade

quis evitar sofrimentos



Passou ser meu o Fabiano

tirei-lhe a cruz da ferida

mas no corredor da vida

tropecei no desespero

no domingo de janeiro

em carreiradas por graça

sei que fizeram trapaça

roubaram nosso dinheiro



E como diz o ditado

quem tem mais menos espera

pulei nos beiços do quéra

com o mango no seu tutano

e a clava do desengano

cravou num culo flemaço

senti na alma um guascaço

tinham baleado Fabiano



Puxei a arma do uso

um trabucão orelhano

catingou queima de pano

no comércio de carreira

e o tal que fez a besteira

tastavilhou meia légua

como quem peala uma égua

na saída da porteira



Hoje em frente meu rancho

num escrito que compus

gravado a sombra da cruz

no livro do coração

um poema uma oração

igual a mim sem vaidade

queimando muita saudade

no pouso da solidão



Gomercindo Medeiros Filho

( Cindinho Medeiros)

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Esta poesia de Cindinho Medeiros  transcreve o gaúcho campeiro com malícia  sensualidade e  apreço as coisas do pago, da terra e, dos costumes campeiros. O gaúcho  de  índole belicosa e ao mesmo tempo amante fogoso.A arte da poesia relata costumes e folguedos da época em que foi escrita .(Leila Silveira suporte do blog)



Sonho Cuiúdo

Eu fui bailar num bochincho
depois da tropa encerrada
indiada mal encarada
com fama de baderneiro
só conhecia o gaiteiro
Curupincho Picumã
morador do camaquã
fazenda do Saladeiro

Esbarrei no parapeito
que saltou barro na clina
do gaio atado lá em cima
já meio dentro da mala
ouvi um borbúrio na sala
da clinuda me esperando
que veio choramingando
fazer caricias no pala


Rolava bóia na festa
a aguada não era rasa
pão de forma feito em casa
capricho que sempre brota
e o Juca da veia Cota
num tranquito acaranchado
troteava em roda do assado
de uma novilha mamóta

Pulei no lombo de um tango
amanunciando de baixo
vinha um mango de muxaxo
fazendo um risco barato
e o meu lenço maragato
tapava os seios da dona
enquanto que da cordeona
saltavam ranhos de gato

A gaita parou de soco
e o candeeiro foi sumido
amor mal correspondido
ou algum trabalho de bruxa
fui grudento o puxa puxa
e o alarde das senhoras
aproveitei vendo as horas
no clarão de uma garrucha

Garrucha boca de sino
encestada pela rampa
e o cheiro de bate guampa
foi entaipando o seival
e não falando por mal
o chinedo em disparada
dava a impressão de uma eguada
correndo num banhadal

Bochincho é mesmo que berne
quando estoura de repente
ainda mais tropa de gente
mas nem por isso me aflijo
e a filha do Mello Rijo
num corridão taco a taco
perdeu o pé num buraco
que fez um arco de mijo

E entre gritos de socorro
me acudam que tenho medo
fui ao fundo do arvoredo
e me amoitei numa carreta
mordendo a china nas tetas
e ouvindo alguns desaforos
saltavam lascas de couro
dos costados da buceta

Mas o melhor vem agora
Pois iniciou mui tristonho
Todo esse baile foi sonho
Fui levado no pacote
A china fugiu de a trote
Me acordei sem aconchego
Mordendo a lã do pelego
E fodendo meu sirigote.

Gomercindo Medeiros Filho
( Cindinho Medeiros)

Tio Manduca

A história que vou contar
meu gasto peito machuca
é do velho tio Manduca
por fim passava mamau
dormindo pelo girau
nem mais tocava o cilindro
alma gêmea do Esmilindro
que canta Caetano Braum

Pra mim que conheço a lida
guabi ju nunca foi uva
nasceram na timbauva
aonde a saudade me topa
trinta e trez em flor de copa
os negros velhos sensatos
na bondade os dois mulatos
eram sinuelos de copa

Negro velho de paciência
me construía arapucas
até mijei tio Manduca
abuchinchando o cenário
lhe fiz serviço precário
e o negro num desempenho
dizia é tudo que tenho
este moleque ordinário

Foi quando fui pra cidade
papai tirou-me da monta
para que aprendesse conta
e me amansasse de saia
eu tinha um peso de graia
que hoje não aparenta
só contava até cinqüenta
pelo costume da “taia”

Um dia voltei na estância
vi o Manduca na lagoa
andava falando a toa
qual ovelha com cegueira
só balbuciava besteiras
baixei os olhos pensando
mais tarde encontrei chorando
pelos bretes da mangueira

Mas o que foi Tio Manduca
que o vejo triste e sem rumo
lhe passo a faca e o fumo
que espantara o dissabor
se a angustia for amor
contaminado da sina
se for saudades da china
tens de agüentar esta dor

Não foi pergunta indiscreta
apesar de haver senões
existem recordações
cruzando nossos caminhos
jamais ganhei pergaminhos
mil vezes fui desprezado
também andei desnorteado
por escassez de carinhos

Mas não era o que eu pensava
desorientou-se da rima
mordendo a vara de cima
carcomida de cupim
que desconsolo pra mim
continuava soluçando
e vi que o negro chorando
chorava seu próprio fim

Esmilindro tio Manduca
também o tio Anastácio
foram do pago o prefácio
que o Rio Grande conheceu
o mesmo pago escreveu
um livro de seu palácio
os negros sendo o prefácio
as folhas mortas sou eu.

Gomercindo Medeiros Filho
( Cindinho Medeiro)