Penas do Pio

Poesia Missioneira

suporte do blog - Ricardo Kraemer Medeiros (Pio)

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Esta poesia de Cindinho Medeiros  transcreve o gaúcho campeiro com malícia  sensualidade e  apreço as coisas do pago, da terra e, dos costumes campeiros. O gaúcho  de  índole belicosa e ao mesmo tempo amante fogoso.A arte da poesia relata costumes e folguedos da época em que foi escrita .(Leila Silveira suporte do blog)



Sonho Cuiúdo

Eu fui bailar num bochincho
depois da tropa encerrada
indiada mal encarada
com fama de baderneiro
só conhecia o gaiteiro
Curupincho Picumã
morador do camaquã
fazenda do Saladeiro

Esbarrei no parapeito
que saltou barro na clina
do gaio atado lá em cima
já meio dentro da mala
ouvi um borbúrio na sala
da clinuda me esperando
que veio choramingando
fazer caricias no pala


Rolava bóia na festa
a aguada não era rasa
pão de forma feito em casa
capricho que sempre brota
e o Juca da veia Cota
num tranquito acaranchado
troteava em roda do assado
de uma novilha mamóta

Pulei no lombo de um tango
amanunciando de baixo
vinha um mango de muxaxo
fazendo um risco barato
e o meu lenço maragato
tapava os seios da dona
enquanto que da cordeona
saltavam ranhos de gato

A gaita parou de soco
e o candeeiro foi sumido
amor mal correspondido
ou algum trabalho de bruxa
fui grudento o puxa puxa
e o alarde das senhoras
aproveitei vendo as horas
no clarão de uma garrucha

Garrucha boca de sino
encestada pela rampa
e o cheiro de bate guampa
foi entaipando o seival
e não falando por mal
o chinedo em disparada
dava a impressão de uma eguada
correndo num banhadal

Bochincho é mesmo que berne
quando estoura de repente
ainda mais tropa de gente
mas nem por isso me aflijo
e a filha do Mello Rijo
num corridão taco a taco
perdeu o pé num buraco
que fez um arco de mijo

E entre gritos de socorro
me acudam que tenho medo
fui ao fundo do arvoredo
e me amoitei numa carreta
mordendo a china nas tetas
e ouvindo alguns desaforos
saltavam lascas de couro
dos costados da buceta

Mas o melhor vem agora
Pois iniciou mui tristonho
Todo esse baile foi sonho
Fui levado no pacote
A china fugiu de a trote
Me acordei sem aconchego
Mordendo a lã do pelego
E fodendo meu sirigote.

Gomercindo Medeiros Filho
( Cindinho Medeiros)

2 comentários:

  1. Legal ver o vô aqui, pai. Tem que colocar aquela poesia que faz referência à Vênus; lindíssima. Sempre lembro daquela, foi uma das primeiras poesias que eu li. Bjos!

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  2. Pio, quando li essa poesia, relembrei meu finado pai que, nas festas da minha infância, fazia duetos, conhecidos como trovas...assim, nesse estilo e te digo que esse era o ponto alto das reuniões familiares...Parabéns!!

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