Penas do Pio

Poesia Missioneira

suporte do blog - Ricardo Kraemer Medeiros (Pio)

domingo, 8 de novembro de 2009




Carreteiro de Charque



Amanheceu dia encanto
Passarada destemida
Decerto toque de Midas
Tudo reluz na campanha
Sol que nasce na manhã
Mirando quem vem na frente
Cruzando o dia contente
Pelos campos, pelas sangas.
.
Chaira que escuta forte
Adaga aço tesouras
Cortaram muita lã boa
Seqüência desta tal lida
Hoje assumem destemidas
Profundo corte na carne
Preparo de fartas mantas
Cedo até fim da tarde
.

Gado enfileirado
Carne sempre de primeira
Tendéu não é brincadeira
Estouro desta boiada
Passa a faca, enfia adaga
Sangue sova terra rasa
Lutas de fortes quéras
Bagos sempre na brasa

.
Verga peso do charque
Sal que luta com suor
Enxuga carne de sol
Preparo exímio saber
Sempre vão abastecer
Ganchos pelas paredes
Nacos iguaria cortados
Saciar nossos prazeres.
.
Arroz da casca crioula
Banha algum capincho
Rastros deste instinto
Panela de ferro atrai
Fogo não se distrai
Geme forte até arder
Impressão ele querer
Bailar lá no Sapucai
.

Pão milho da roça
Garapa cana do braço
Cachaça branca laçasso
Acompanham ritual
Não me levando a mal
Sorvia amargo brejeiro
Lembrando amores costeiros
Coração adoçou sal.
.
Completamos nosso rito
Tarde com sono finda
Arvoredos varas finas
Passarada balançava
Gente boa, tudo em casa.
Preparando seus miangues
Amanhã bem cedo partem
Carretas desta charqueada..