Penas do Pio

Poesia Missioneira

suporte do blog - Ricardo Kraemer Medeiros (Pio)

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Tio Manduca

A história que vou contar
meu gasto peito machuca
é do velho tio Manduca
por fim passava mamau
dormindo pelo girau
nem mais tocava o cilindro
alma gêmea do Esmilindro
que canta Caetano Braum

Pra mim que conheço a lida
guabi ju nunca foi uva
nasceram na timbauva
aonde a saudade me topa
trinta e trez em flor de copa
os negros velhos sensatos
na bondade os dois mulatos
eram sinuelos de copa

Negro velho de paciência
me construía arapucas
até mijei tio Manduca
abuchinchando o cenário
lhe fiz serviço precário
e o negro num desempenho
dizia é tudo que tenho
este moleque ordinário

Foi quando fui pra cidade
papai tirou-me da monta
para que aprendesse conta
e me amansasse de saia
eu tinha um peso de graia
que hoje não aparenta
só contava até cinqüenta
pelo costume da “taia”

Um dia voltei na estância
vi o Manduca na lagoa
andava falando a toa
qual ovelha com cegueira
só balbuciava besteiras
baixei os olhos pensando
mais tarde encontrei chorando
pelos bretes da mangueira

Mas o que foi Tio Manduca
que o vejo triste e sem rumo
lhe passo a faca e o fumo
que espantara o dissabor
se a angustia for amor
contaminado da sina
se for saudades da china
tens de agüentar esta dor

Não foi pergunta indiscreta
apesar de haver senões
existem recordações
cruzando nossos caminhos
jamais ganhei pergaminhos
mil vezes fui desprezado
também andei desnorteado
por escassez de carinhos

Mas não era o que eu pensava
desorientou-se da rima
mordendo a vara de cima
carcomida de cupim
que desconsolo pra mim
continuava soluçando
e vi que o negro chorando
chorava seu próprio fim

Esmilindro tio Manduca
também o tio Anastácio
foram do pago o prefácio
que o Rio Grande conheceu
o mesmo pago escreveu
um livro de seu palácio
os negros sendo o prefácio
as folhas mortas sou eu.

Gomercindo Medeiros Filho
( Cindinho Medeiro)

Um comentário:

  1. Viria a ser de autoria de teu pai?
    Pio,é uma poesia que desperta em mim a mesma sensação que tive quando li Cyro Martins(trilogia do gaúcho a pé),não me refero ao apelo social,mas ao cheiro da terra,da paisagem tipica nossa e até cheiro da para sentir.Abrç!

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