Resgatar a arte poética , os versos e causos de Cindinho Medeiros, tem sido uma descoberta diária da leitura que um idealista e observador possuia sobre seu tempo seus costumes e principalmente sobre sua gente.
( Leila Silveira -comentário sugerido pelo poeta Pio Medeiros)
Fabiano
Na estância do Campo Brabo
( Leila Silveira -comentário sugerido pelo poeta Pio Medeiros)
Fabiano
Na estância do Campo Brabo
foi que conheci Fabiano
em maio não lembro o ano
sei que andava de tropeada
de bombachas remangada
sem um pelego no lombo
o moleque abria rombo
nos campos cheio de geada
Fabiano, levanta alcaide
oigalete piá marranheiro
busca a eguada no potreiro
correndo e traga de apé
ta hoje que nem muié
quando empeça de retovo
eu digo as peoas de novo
pra não te darem café
Ligeiro que nem pra briga
o guri saiu andando
le bombiei vinha chorando
meio espantado de sono
eu pensei, não tem patrono
é suco de pura uva
igual tareco de viúva
todo mundo quer ser dono
Compartilhei da tristeza
disse ao dono da fazenda
amigo me de ou venda
este chimbo que sustento
estropiei meus sentimentos
negociando a humanidade
mas eu não fiz por maldade
quis evitar sofrimentos
Passou ser meu o Fabiano
tirei-lhe a cruz da ferida
mas no corredor da vida
tropecei no desespero
no domingo de janeiro
em carreiradas por graça
sei que fizeram trapaça
roubaram nosso dinheiro
E como diz o ditado
quem tem mais menos espera
pulei nos beiços do quéra
com o mango no seu tutano
e a clava do desengano
cravou num culo flemaço
senti na alma um guascaço
tinham baleado Fabiano
Puxei a arma do uso
um trabucão orelhano
catingou queima de pano
no comércio de carreira
e o tal que fez a besteira
tastavilhou meia légua
como quem peala uma égua
na saída da porteira
Hoje em frente meu rancho
num escrito que compus
gravado a sombra da cruz
no livro do coração
um poema uma oração
igual a mim sem vaidade
queimando muita saudade
no pouso da solidão
Gomercindo Medeiros Filho
( Cindinho Medeiros)
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