Penas do Pio

Poesia Missioneira

suporte do blog - Ricardo Kraemer Medeiros (Pio)

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Quarto das Amigas







Engraçado estas lidas


Voltas que a vida da


Estava sentado lá


Percebi o reboliço


Três gurias no capricho


Planejando um ataque


Queriam judiar o moleque


Seu nome Caraguatá






A primeira orquestrou


Planejou todo fuxico


Queria pegar o dito


Manear também dar nó


Amassar um pão de ló


Adoçar lábios tremendo


Depois saírem correndo


Pelos campos cafundós






A segunda audaciosa


Vinha de mares distantes


Com ares de petulância


Seu desejo era salgar


Depois de adocicar


Lambuzando com pitangas


Limpar bem devagarzinho


Com cuidado e carinho


Como aquela que tem dó






A terceira era arisca


Pior lambari da sanga


Ficava envolta a tramas


Manhosa feito gatinha


Bastava olhar quietinha


Bilhete já revelado


Amava Caraguatá


Queria estar a seu lado.






O trato estava feito


Acertaram o mais direito


As três não eram mais três


Formaram um quarto de vez


Caraguatá bem armado


Enfrentou a dura sina


Dar conta de três meninas


Toda hora dia e mês.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Jarará








Pra você que já partiu


Neste dia vi sumir


Dor daquela saudade


Que até hoje eu senti


Desatrelar estes fardos


Soltar amarras do potro


O que não tive contigo


Andar repõem o conforto






Agora nas pradarias


Corro solto com os ventos


Acompanho estas brisas


Todas elas sem lamentos


Convido saiba comigo


Não podemos maltratar


Devolver tudo em dobro


Só não posso mais te amar.



Carqueja- Sítio Água Doce (foto LS)



Especial de Primeira




Apalpei hoje as mãos

Logo corri pros dedos

Contagem com aconchego

Desta gente sem igual

Conhecido manancial

Encontramos nos caminhos

Muitos deles são da gema

Tipo de amigo especial



Trocamos experiências

Um dedo apóia o outro

Respeito nunca foi troco

Forma um ser colossal

E não falando por mal

Falsos que me desculpem

Cravem o pé do meu lado

No peito só especial



Companheiros aguerridos

Juventude na fuzarca

Velhos meninos de raça

Nunca deixam o parceiro

Todos eles altaneiros

Areia fina peneira

Não correm e dão abrigo

Gente especial de primeira



Amigos novos, tão belo

Impressão já ter há tempo

Partilhar as alegrias

Sofrimentos e lamentos

Ter certeza que na vida

Tudo é ao natural

Os ruins para outro lado

Comigo só especial



Há os que se disfarçam

Usam pele de lobo

Grande tem até corvos

Olhar baixo denuncia

Conhecer rengo sentado

Cego dormindo e tal

Aprendemos nesta vida

Perceber um especial .



Completei ciclo das mãos

Todos dedos preenchidos

Amigos e mais amigos

Crianças senhoras peões

Possuir um carretão

Recolher todos aflitos

Buscar até no infinito

Retirar do temporal

Tratar sempre com carinho

Quem tem coração especial.




terça-feira, 15 de dezembro de 2009













Sìtio Água Doce (foto LS)



Frutos


Remoer estas lembranças
Muitos anos se passaram
Ficou no confessionário
Certezas das incertezas
Quando novo a pobreza
Argumentos sem saída
Devemos sempre escutar
Conhecedores da lida

Conselhos de nossos pais
Filho não vá além
Conheça os pergaminhos
Escute quem dá carinho
Depois não se volta mais
Fardos cheios de espinhos
Machucam lombo e ninho
Doloroso até demais

Não é culpa do vivente
Mente era desprovida
Carregar estas feridas
Um penar a toda prova
Até a lua renova
Trocando tudo de novo
Proteger sempre este povo
Das coisas desprevenidas

Queremos nossos rebentos
Apartados da injustiça
Cuidar para quem insista
Não cair em armadilhas
Caminhar em outras trilhas
Picadas sempre abertas
Soltar migalhas na certa
Jamais se perder na ida.

No final do desafio
Teremos a recompensa
Queremos nossa querência
Na paz com tranqüilidade
Quanto a mim sem falsidade
Reservo lá um cantinho
Um lugar muito carinho
Chegarão sempre de viagem
Sítio Água Doce- (foto LS)

Canoa

Rasgou água no meio
Minha canoa varou
Levando todo os versos
Uruguai ela cruzou
Remos de puro louro
Silenciam as braçadas
Cruzando este meu rio
Levando poemas a amada

Prata da lua cheia
Reflete os sentimentos
Amores que acompanham
Digladia frente ao vento
Correntes fortes que levam
Pensamentos tento a tento
No fundo águas que são
Sepulturas de lamentos

Como chegar outro lado
Esforço descomunal
Somente amor sincero
Remete ser um final
Alcançando outra margem
Meus dedos irão tocar
Lábios de minha amada
Meus sonhos imaginar

Cheias do rio vazante
Destroem por onde passam
Moradas em frente ao rio
No alto sempre escapam
Aquela bem da barranca
Não conseguem segurar
Águas que levam tudo
Amores dores que há

Meu caíque amarrado
Forte em um sarandi
Não segurou estas mágoas
Como ela viu partir
Enxurrada de amores
Margens que não conheci
Fico eu nestas paragens
Brincar nas águas guri.
Pau Ferro

Carreta beira da mata
Machados lutam no aço
Peonada se esforça
Colher madeira tão forte
Pau ferro nunca escolhe
Seu destino altaneiro
Ser palanque ser primeiro
Esteio de rancho nobre.

Tuas raízes concordam
Em pedras aqui cravadas
Nos fundos das invernadas
Rala sombra é abrigo
Uruguai também ensina
Tempo de cheias grandes
Partem pedaços do pago
Cercar estâncias distantes

A fazenda te espera
Firmar farpados de guarda
Seis fios entoam espichada
Martelo é teu parceiro
Serrote algoz certeiro
Não poupa o teu destino
Ser forte desde menino
Pelos brétes da mangueira

Infância tu foi gravada
No tronco deste Pau Ferro
Balbuciando Martin Fierro
Lembranças que não esqueço
Se me apartarem tropeço
Sentindo falta do mato
Aprendi ser farquejado
Lutando com ser andejo